“Saudade da Razão”, é o quarto álbum da banda de rock Organoclorados, que traz 10 faixas autorais que revelam diferentes facetas do grupo de Alagoinhas -Bahia, e os eixos que as conectam, o que reafirma as características de um som resultante de múltiplas vibrações.
O conceito do álbum está alicerçado em um estilo que vem sendo definido ao longo da trajetória da banda, fruto de uma mistura inquieta e às vezes improvável de pós-punk, new wave, psicodelia, rock progressivo, sonoridades vintage, música brasileira e blues. As letras revelam influências processadas de poesia simbolista, cientificismo, ficção distópica e filosofia, passeando por temas que vão do romance à crítica social. Nesse caldeirão em constante ebulição, a busca incessante por originalidade nos arranjos e interpretações genuínas e atualizadas. Afinal, entre os segredos da Organoclorados para persistir no ambiente rocker estão a capacidade de adaptação e doses precisas de criatividade e ousadia.
Conversamos com a banda sobre sua trajetória, processo de composição e gravação, influências musicais, entre outras curiosidades. Confira a entrevista!
De onde tiraram a ideia para o nome da banda?
O nome veio do refrão da primeira música (“Princípio Ativo”) que Artur W e Paulo Coqueiro, fundadores da banda na época de universidade, fizeram antes mesmo de pensar em montar uma banda, só por diversão. Como o refrão repete esse nome e eles viviam tocando e cantando a música nos lugares, a galera praticamente batizou a dupla de “os organoclorados”. Quando os dois e mais um terceiro amigo que começava a tocar contrabaixo subiram num palco pela primeira vez e o locutor perguntou como deviam ser anunciados, a galera gritava “organoclorados! organoclorados!….” e não deu outra. Quanto ao significado, é uma referência a um tipo de inseticidas utilizados para combater pragas da agricultura, com características de persistência, capacidade de acumulação e alto efeito residual. Com o tempo, vimos que queríamos fazer músicas para combater certas pragas como mesmice, alienação, apatia etc. e que fossem persistentes nos corações e mentes das pessoas, porém sempre com efeito residual positivo.
Vocês se conheciam antes da banda ser formada?
Sim! André e Artur são primos que foram criados muito próximos e há tempos se consideram como irmãos. Joir conheceu André na época do ensino médio e logo depois veio a ser amigo também de Artur e Roger. Este último morava na mesma rua que André em Alagoinhas e já conhecia Artur desde adolescente, principalmente por causa dos jogos de futebol. O Rock veio para fortalecer esses laços de amizade e fraternidade. Por outro lado, Alan Gustavo é filho de André e cresceu vendo e escutando ensaios e shows, e interagindo com todos da banda.
A banda segue promovendo seu último lançamento, o disco “Saudade da Razão”. Como foi o processo de gravação?
Foi uma experiência fantástica. Já tínhamos vivido momentos muito interessantes em gravações anteriores, mas o processo até chegar à Saudade da Razão foi fantástico. Trazemos na bagagem toda a experiência das gravações dos álbuns anteriores, considerando ainda a evolução tecnológica desde o Princípio Ativo (2000-2001) e o plano inicial depois do Quântico (2018) era gravar três ou quatro singles para lançar a partir de 2020. Mas à medida que os resultados apareciam, ficamos cada vez mais empolgados e confiantes, logo sendo cogitada a ideia de montar um EP. Com o advento da pandemia e o cancelamento de shows, sem perspectiva de retorno, direcionamos nosso tempo e nossas energias para o processo de composição e arranjo, encontramos juntamente com o Estúdio Jimbo uma fórmula para prosseguir com segurança e a proposta avançou para um álbum. Gravamos as sessões de bateria de quatro canções que seriam os singles originais e em seguida vieram as sessões de baixo, teclados, guitarras e vozes. Enquanto lançávamos os singles e até mesmo o álbum digital Efeito Residual por dois selos independentes, também gravamos as músicas restantes até que todas elas ficaram prontas. Tudo isso aconteceu entre 2019 e 2021, em plena pandemia (nesse período Artur e Joir foram infectados duas vezes pelo novo coronavírus). Algo fundamental na concepção do álbum Saudade da Razão é que foi realizada toda uma nova masterização, única e exclusiva para o projeto e a sequência das faixas. Assim, é possível perceber nuances diversas nas sonoridades dos singles e das faixas do álbum completo, o que enriqueceu bastante nossa produção artística.
Quem fez a capa do álbum?
A arte da capa do álbum é o recorte de um desenho feito aos cinco anos de idade por um dos filhos de Artur W e que o pai digitalizou e tinha guardado como memória desde 2016. Artur fez apenas uma edição simples para realçar as cores e o contraste, atendendo às sugestões da banda.
Cada banda favorita dos membros da banda?
Alan Gustavo – Red Hot Chili Peppers
André G – U2
Artur W – Joy Division
Joir Rocha – Echo nd The Bunnymen
Roger Silva – The Smiths
Quem ou o que te inspira a escrever músicas?
As letras sintetizam influências da poesia de Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Antero de Quental, Manoel de Barros e Fernando Pessoa; o realismo de autores da literatura brasileira; a ficção distópica de George Orwell e Aldous Huxley; e a filosofia de Nietzsche para abordar temas do cotidiano, romances, reflexões existenciais, crítica social e a preocupação com o meio ambiente. As melodias, harmonias e arranjos nas composições refletem nossas influências do rock, blues, jazz e música brasileira (principalmente regional). E o ponto de partida pode vir de qualquer coisa, lugar ou momento, desde um pensamento elaborado, uma cena de filme, um sonho ou uma pequena história vivida por nós mesmos ou alguém próximo.
Onde foi seu último show?
Na Galeria Thereza Lima, um dos melhores espaços culturais da Bahia, localizado em Alagoinhas.
Que banda gostariam de fazer um feat?
Plebe Rude
Com quem vocês gostariam de apresentar?
Ira!
Quais bandas mais inspiraram o som do Organoclorados?
Joy Division, The Doors, Echo and The Bunnymen, The Cure e Raul Seixas
Podemos esperar mais material inédito em breve? O clipe talvez?
Em breve…depende da noção de “breve”, mas podemos adiantar que temos material inédito gravado (sobras que não entraram no Saudade da Razão), alguns projetos de vídeo (clipe talvez sim) e já estamos trabalhando num novo projeto, sem previsão de conclusão. Como o foco agora é promover o novo álbum, temos de cuidar para que a ansiedade não nos domine, para evitar atropelar as coisas. Mas é bem provável que ainda neste ano de 2022 venham algumas coisas inéditas.
“Saudade da Razão”:
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